quinta-feira, agosto 18, 2005

Meia Noite ou O Princípio do Mundo

De Richard Zimler, o mesmo autor de O último cabalista de Lisboa. Está lá o estilo, estão lá os judeus, está lá a cultura anti-semita de Portugal. Mas está, também, muito mais do que o Cabalista alguma vez porderia conter.

Aqui o que conta é a história. O cenário não passa disso mesmo.

E que história. Ainda agora a comecei mas já sinto aquela zanga impotente sempre que tenho de fechar o livro e aquele frémito de excitação sempre que o abro.

É tão bom quando encontramos um espaço assim.

Sónia

terça-feira, agosto 16, 2005

Agatha Christie e afins

Lembro-me da primeira vez que peguei num livro de Agatha Christie. Alguém me tinha dito que era um fenómeno, impossível de largar, de ler e chorar por mais, de não dormir até chegarmos ao fim da última página... Por isso sentei-me com o livro na mão enquanto tentava apagar o sorriso estúpido e nervoso de quem sabe que vai viver uma emoção nova.

Li a dedicatória, respirei fundo e comecei.

Ao fim do 1º capítulo já procurava o número de páginas que o livro tinha para calcular o tempo que ia demorar até chegar ao fim (demasiado, lembro-me de pensar). O fim do 2º capítulo ditou o fim da leitura por aquele dia.

Se calhar era da expectativa mas aquilo estava a dar-me comichão.

Às tantas, depois de andar a seguir pistas sem fim, indícios de becos sem saídas e afins, fui directa ao início do último capítulo. Claro que assassino e motivo não eram nada do que eu pensava, nem faziam muito sentido no âmbito da informação que eu dispunha (claro!!, caso contrário 10 páginas bastariam para contar a história mas não para enriquecer os autores), mas pelo menos já sabia como acabava o livro e podia começar outro. Que não de Agatha Christie entenda-se.

Anos depois voltei a tentar o estilo com outros autores. O resultado foi sempre o mesmo: comichão e saltos directos para o fim do livro. Acho que este tipo de produções se devia ficar pelo cinema, onde a informação demora pouco mais de hora e meia a digerir. Dêem-me romance, ficção, ensaios, biografias, tio patinhas ou x-men mas, por favor, poupem-me às perturbações literárias dos autores policiais. E já agora dos de ficção científica também.

Ainda assim confesso-me aberta a novas tentativas (a iniciar num dia em que o sono demore mais a vir).


Isto dá pano para mangas... e ainda bem!

Para ser muito sincera não faço ideia de quando comecei a ler Agatha Christie, mas foi com toda a certeza sob a influência da minha mãe, que é taradinha por policiais (ó sô chefe, eu sei que tu lês isto, não te ofendas com o taradinha porque é mesmo verdade :D). Ela é Agatha Christie, ela é Nero Wolfe, ela é o Santo, Minette Walters, tudo, tudo, tudo. Especialmente se for da Colecção Vampiro que é assim maneirinha e mesmo a jeito para se ler antes de dormir ;)

Eu confesso que sou mais selectiva. Comecei pela Agatha Christie e "estraguei-me". Já tentei os outros e volto sempre à Agatha Christie. De início lia Poirot e nada mais, não engrenava nas outras personagens. Agora papo-os a todos... mas tem de ser Christie. Eu gosto mesmo é daquilo, da forma como ela escreve, dos pormenores macabros, da análise psicológica, das pistas verdadeiras e das falsas, do romance que inevitavelmente acaba por acontecer (a mente daquela mulher tinha tanto de casamenteira como de assassina). E depois chegar ao fim e pensar este/esta???? mas foi o ÚNICO/a ÚNICA de quem eu não suspeitei!!!!! é demais, porque hoje em dia, como já li tantos, já passo o tempo todo do livro a desconfiar de tudo e todos... e mesmo assim nunca por nunca acerto.

Karla


Ora pois! É exactamente o não acertar que me exaspera. Custava muito deixar-nos sentir inteligentes ou prováveis-Poirot's-de-trazer-por-casa?

Mas mantenho: um destes dias volto a tentar. Não pode é estar sol! Aliás, tem mesmo de estar a chover. E tenho de estar a beber chá, não posso começar nem antes nem depois das 17h, a Joana não pode estar em casa e já tenho de ter os candeeiros na sala para poder dar o ambiente. E tem de ser num dia ímpar!

Sónia

Ó menina, com tanto ambiente acabas a fazer tudo menos ler Agatha Christie :)

Essa do fazer-nos sentir inteligentes também tem o seu quê. Só que depois também acredito que cansasse, às tantas perdia o interesse... pelo menos para mim.

Tenta, sim. Mas don't overdo it. Ainda descobres que gostas e deixamos de ter ponto de controvérsia, LOL.

Karla

terça-feira, agosto 09, 2005

O último cabalista de Lisboa

A dada altura senti vergonha de ser portuguesa.
Poderia até resumir isto a uma questão religiosa, cristãos vs. judeus, mas o narrador coloca o assunto em termos maiores: portugueses vs. judeus. Sendo que por portugueses entende todos os cristãos-velhos.
E não é simpático vermos como eram os nossos antepassados no início do século XVI. Porcos. Porcos de corpo e de espírito. Cruéis. Reprimidos e repressivos. Bárbaros. Muito bárbaros.

E tudo isto porque a história é contada por um judeu (ou cristão-novo), Berequias, que descobre o seu tio (um cabalista também convertido à força ao cristianismo) assassinado na cave da casa deles. Encontrado nú ao lado de uma jovem desconhecida, também nua, e fechados por dentro. Sim, o livro assenta na procura do assassino. Não, o interesse da história não reside aí.

O que nos agarra à cadeira, revolve as entranhas e faz corar de raiva e vergonha é o cenário de fundo da acção: Lisboa em tempo de peste e seca. Lisboa sem respeito pelo governante e cada vez mais anti-semitista. Lisboa à deriva e com um bode expiatório ali tão perto.

De um momento para o outro os cristãos-novos (que, para os -velhos, não deixaram de ser judeus manhosos, traiçoeiros, com cornos e caudas) passam a ser os responsáveis pela seca. Clero e povo grita nas ruas pelo sangue dos marranos para limpar Lisboa e aplacar a ira de Deus. Clero e povo arrancam homens, mulheres e crianças às suas casas, violam, decepam e queimam (muitos deles ainda com vida) numa gigantesca fogueira em pleno Rossio.

Sim, é horrível e mexe connosco. A descrição é tão realista (e rigorosa na exactidão histórica) que faz contrair os maxilares com a raiva. Mas a história em si arrasta-se um pouco e torna-se, em certos momentos, cansativa. O personagem é tal forma real (inconstante, incongruente e pouco carismático) que acaba por lhe faltar essência literária.

Eu estou a gostar. Muito.
Só continuo sem perceber se é ficção ou não. Porque a apresentação da Quetzal diz que sim mas o autor no prólogo diz que não.

segunda-feira, agosto 08, 2005

Minha gente!

Temos nova colaboradora neste espaço. Agora somos duas a desinquietar as carteiras do pobres leitores incautos ;)