quinta-feira, dezembro 15, 2005

A malta do 2º C, Catarina da Fonseca

Da contracapa:

A escola não é só testes, horários, professores, delegados de turma. A escola é também um esqueleto chamado Magalhães, uma antepassada fugida aos franceses, um extraterrestre abandonado no pátio, a Dó-do-Senhor espreitando pelas grades, a Filipa, o Birinhas, a Mão-do-Diabo.
A escola é também o fantasma do reitor Simões, aparecido para assombrar as couves do quintal. A escola é o que a malta do 2.º C foi descobrindo ao longo do ano. À mistura com o sintagma nominal, a Batalha de São Mamede e a regra de três.


Este livro é de leitura obrigatória. É literatura infantil, pois é, mas lá por isso não deixa de ser obrigatório. Aqueles miúdos são de levar uma pessoa às lágrimas, de riso, claro! A Catarina da Fonseca é filha da Alice Vieira e isso nota-se; é só um bocado mais cómica.

A não perder ainda, da mesma autora, A Herança e Adeus, Al Capone.

terça-feira, setembro 20, 2005

Tal como disse do outro lado,

desculpem lá a chatice, mas já tinha decidido que ao primeiro comentário anónimo e declaradamente automático accionaria a verificação de caracteres.

(Sónia, não te importas, não?)

Bésame Mucho, Carlos González

Perdoe-me quem não se interessa maioritariamente pela literatura de maternidade, mas considero seguro afirmar que este livro mudou a minha forma de viver a relação com a minha filha.

O livro contraria uma série de teorias que propõem uma educação rígida, defendendo uma educação dos filhos baseada no amor, respeito e liberdade. Embora não concorde nem subscreva a 100% tudo tintim por tintim (para mim a falha do livro está em alhear-se um pouco daquilo que é a realidade actual, em que normalmente não há ajudas para as mães como havia antigamente), recomendo-o vivamente a qualquer mãe ou futura mãe. Foi-me recomendado e emprestado por uma querida amiga a quem só posso agradecer do fundo do coração, uma e outra vez.

quinta-feira, agosto 18, 2005

Meia Noite ou O Princípio do Mundo

De Richard Zimler, o mesmo autor de O último cabalista de Lisboa. Está lá o estilo, estão lá os judeus, está lá a cultura anti-semita de Portugal. Mas está, também, muito mais do que o Cabalista alguma vez porderia conter.

Aqui o que conta é a história. O cenário não passa disso mesmo.

E que história. Ainda agora a comecei mas já sinto aquela zanga impotente sempre que tenho de fechar o livro e aquele frémito de excitação sempre que o abro.

É tão bom quando encontramos um espaço assim.

Sónia

terça-feira, agosto 16, 2005

Agatha Christie e afins

Lembro-me da primeira vez que peguei num livro de Agatha Christie. Alguém me tinha dito que era um fenómeno, impossível de largar, de ler e chorar por mais, de não dormir até chegarmos ao fim da última página... Por isso sentei-me com o livro na mão enquanto tentava apagar o sorriso estúpido e nervoso de quem sabe que vai viver uma emoção nova.

Li a dedicatória, respirei fundo e comecei.

Ao fim do 1º capítulo já procurava o número de páginas que o livro tinha para calcular o tempo que ia demorar até chegar ao fim (demasiado, lembro-me de pensar). O fim do 2º capítulo ditou o fim da leitura por aquele dia.

Se calhar era da expectativa mas aquilo estava a dar-me comichão.

Às tantas, depois de andar a seguir pistas sem fim, indícios de becos sem saídas e afins, fui directa ao início do último capítulo. Claro que assassino e motivo não eram nada do que eu pensava, nem faziam muito sentido no âmbito da informação que eu dispunha (claro!!, caso contrário 10 páginas bastariam para contar a história mas não para enriquecer os autores), mas pelo menos já sabia como acabava o livro e podia começar outro. Que não de Agatha Christie entenda-se.

Anos depois voltei a tentar o estilo com outros autores. O resultado foi sempre o mesmo: comichão e saltos directos para o fim do livro. Acho que este tipo de produções se devia ficar pelo cinema, onde a informação demora pouco mais de hora e meia a digerir. Dêem-me romance, ficção, ensaios, biografias, tio patinhas ou x-men mas, por favor, poupem-me às perturbações literárias dos autores policiais. E já agora dos de ficção científica também.

Ainda assim confesso-me aberta a novas tentativas (a iniciar num dia em que o sono demore mais a vir).


Isto dá pano para mangas... e ainda bem!

Para ser muito sincera não faço ideia de quando comecei a ler Agatha Christie, mas foi com toda a certeza sob a influência da minha mãe, que é taradinha por policiais (ó sô chefe, eu sei que tu lês isto, não te ofendas com o taradinha porque é mesmo verdade :D). Ela é Agatha Christie, ela é Nero Wolfe, ela é o Santo, Minette Walters, tudo, tudo, tudo. Especialmente se for da Colecção Vampiro que é assim maneirinha e mesmo a jeito para se ler antes de dormir ;)

Eu confesso que sou mais selectiva. Comecei pela Agatha Christie e "estraguei-me". Já tentei os outros e volto sempre à Agatha Christie. De início lia Poirot e nada mais, não engrenava nas outras personagens. Agora papo-os a todos... mas tem de ser Christie. Eu gosto mesmo é daquilo, da forma como ela escreve, dos pormenores macabros, da análise psicológica, das pistas verdadeiras e das falsas, do romance que inevitavelmente acaba por acontecer (a mente daquela mulher tinha tanto de casamenteira como de assassina). E depois chegar ao fim e pensar este/esta???? mas foi o ÚNICO/a ÚNICA de quem eu não suspeitei!!!!! é demais, porque hoje em dia, como já li tantos, já passo o tempo todo do livro a desconfiar de tudo e todos... e mesmo assim nunca por nunca acerto.

Karla


Ora pois! É exactamente o não acertar que me exaspera. Custava muito deixar-nos sentir inteligentes ou prováveis-Poirot's-de-trazer-por-casa?

Mas mantenho: um destes dias volto a tentar. Não pode é estar sol! Aliás, tem mesmo de estar a chover. E tenho de estar a beber chá, não posso começar nem antes nem depois das 17h, a Joana não pode estar em casa e já tenho de ter os candeeiros na sala para poder dar o ambiente. E tem de ser num dia ímpar!

Sónia

Ó menina, com tanto ambiente acabas a fazer tudo menos ler Agatha Christie :)

Essa do fazer-nos sentir inteligentes também tem o seu quê. Só que depois também acredito que cansasse, às tantas perdia o interesse... pelo menos para mim.

Tenta, sim. Mas don't overdo it. Ainda descobres que gostas e deixamos de ter ponto de controvérsia, LOL.

Karla

terça-feira, agosto 09, 2005

O último cabalista de Lisboa

A dada altura senti vergonha de ser portuguesa.
Poderia até resumir isto a uma questão religiosa, cristãos vs. judeus, mas o narrador coloca o assunto em termos maiores: portugueses vs. judeus. Sendo que por portugueses entende todos os cristãos-velhos.
E não é simpático vermos como eram os nossos antepassados no início do século XVI. Porcos. Porcos de corpo e de espírito. Cruéis. Reprimidos e repressivos. Bárbaros. Muito bárbaros.

E tudo isto porque a história é contada por um judeu (ou cristão-novo), Berequias, que descobre o seu tio (um cabalista também convertido à força ao cristianismo) assassinado na cave da casa deles. Encontrado nú ao lado de uma jovem desconhecida, também nua, e fechados por dentro. Sim, o livro assenta na procura do assassino. Não, o interesse da história não reside aí.

O que nos agarra à cadeira, revolve as entranhas e faz corar de raiva e vergonha é o cenário de fundo da acção: Lisboa em tempo de peste e seca. Lisboa sem respeito pelo governante e cada vez mais anti-semitista. Lisboa à deriva e com um bode expiatório ali tão perto.

De um momento para o outro os cristãos-novos (que, para os -velhos, não deixaram de ser judeus manhosos, traiçoeiros, com cornos e caudas) passam a ser os responsáveis pela seca. Clero e povo grita nas ruas pelo sangue dos marranos para limpar Lisboa e aplacar a ira de Deus. Clero e povo arrancam homens, mulheres e crianças às suas casas, violam, decepam e queimam (muitos deles ainda com vida) numa gigantesca fogueira em pleno Rossio.

Sim, é horrível e mexe connosco. A descrição é tão realista (e rigorosa na exactidão histórica) que faz contrair os maxilares com a raiva. Mas a história em si arrasta-se um pouco e torna-se, em certos momentos, cansativa. O personagem é tal forma real (inconstante, incongruente e pouco carismático) que acaba por lhe faltar essência literária.

Eu estou a gostar. Muito.
Só continuo sem perceber se é ficção ou não. Porque a apresentação da Quetzal diz que sim mas o autor no prólogo diz que não.

segunda-feira, agosto 08, 2005

Minha gente!

Temos nova colaboradora neste espaço. Agora somos duas a desinquietar as carteiras do pobres leitores incautos ;)

quinta-feira, julho 28, 2005

Lucy Maud Montgomery

Esta senhora teve um dia a excelente ideia de criar uma personagem que para mim foi das mais marcantes, se não a mais marcante, da minha adolescência: Anne Shirley, por cá mais conhecida como a Ana dos cabelos ruivos.

A coisa por cá começou com a série de TV As Aventuras de Ana, que a minha mãe me disse que eu tinha de ver porque a protagonista era tal qual eu. Bom, não será bem assim mas quem me dera. É certo que a tendência para o dramático e a paixão pelos livros eram comparáveis, mas eu nunca tive nem tanta imaginação nem tanta proprensão para os desastres :D

Enfim. Uns tempos depois a RTP começou a dar a série de animação Ana dos Cabelos Ruivos e foi a perdição total, eu adorava aquilo e lembro-me de mais tarde ver o Agora, Escolha! só para poder assistir à reposição da série. Depois deixou de dar e eu fiquei tristinha.

Uns bons anos mais tarde, estava eu de Erasmus em Viena e fui a Konstanz com a minha amiga S. passar o Carnaval. Na montra de uma livraria vejo um livro da Wordsworth (aquela edição abençoadamente baratucha de clássicos) chamado Anne of Avonlea. Os meus parcos neurónios começaram a trabalhar a todo o vapor, ora Anne, com e, e Avonlea, ora Avonlea não era onde ela morava... hum, deixa cá ver e pronto, saí de lá com o livro (o segundo da colecção) na mão. Depois foi esgravatar por todos os meios para completar a colecção, o que aconteceu uns anos mais tarde. E a colecção é:

1) Anne of Green Gables
2) Anne of Avonlea
3) Anne of the Island
4) Anne of Windy Willows
5) Anne's House of Dreams
6) Anne of Ingleside
7) Rainbow Valley
8) Rilla of Ingleside

Lindo, lindo, lindo, lindo. Pelo menos para mim. Adoro tudo nestes livros. A Anne, mesmo aos 11 anos (quando a história começa), é tudo o que eu queria ser quando for grande.

A parte má, tendo em conta a beleza da história, é que não existem traduções para português. A parte boa, tendo em conta as traduções do Harry Potter, é que não existem traduções para português ;)

sexta-feira, julho 22, 2005

Dan Brown (e Robert Harris)

Li O Código Da Vinci e gostei. Li Anjos e Demónios e gostei ainda mais. Agora francamente não entendo toda a polémica. SÃO OBRAS DE FICÇÃO, gentes! Basear o valor destes livros na suposta veracidade do seu conteúdo é desvirtuar dois dos melhores policiais que eu já li.

O Pátria (Fatherland) do Robert Harris é outro policial, embora bastante diferente, que parte do pressuposto de que Hitler ganhou a II Guerra Mundial - e lá por isso não andamos à procura de provas que demonstrem que isto é verdade, nem a gritar aos sete ventos que é mentira... pois não?

Fica a menção aos três livros. O terceiro pouco tem a ver com os dois primeiros, mas achei um bom termo de comparação ;)

quinta-feira, julho 21, 2005

Como um romance, Daniel Pennac


"Os Direitos Inalienáveis do Leitor:
1. O direito de não ler.
2. O direito de saltar páginas.
3. O direito de não acabar um livro.
4. O direito de reler.
5. O direito de ler não importa o quê.
6. O direito de amar os “heróis” dos romances.
7. O direito de ler não importa onde.
8. O direito de saltar de livro em livro.
9. O direito de ler em voz alta.
10. O direito de não falar do que se leu."

(in Como um Romance, Daniel Pennac)

Com um excerto destes na contracapa eu nem tive tempo de respirar: quem escreve assim não é gago! Este livro é delicioso e deixou-me com a certeza de que tinha ali uma alma gémea da leitura.

terça-feira, julho 19, 2005

A César o que é de César

A Cartilha Maternal terá a sua importância. Mas a paixão vem de mais longe. Numa casa tão cheia de livros, jornais e revistas, quase que a leitura é que se apaixonou por mim ;)

Às sextas à noite, depois do jantar, ficávamos os três em silêncio na sala, quebrado apenas quando alguém dizia já leste? então passa aí..., num amontoado de cadernos principais, revistas e suplementos disto e daquilo. Antes, quando era pequena, lia com a luz do corredor depois de a minha mãe me vir apagar a luz e não percebia porque é que ela se zangava tanto.

E durante muitos anos invejei os meninos a quem os pais diziam devias ler mais; os meus eram da corrente filosófica do sempre com o nariz enfiado nos livros, mania da miúda, vai arrumar o teu quarto mas é!

E a culpa era (é) deles :D Obrigada, pais!

Navegador Solitário, João Aguiar

Ora que bela ideia teve a minha amiga Mafalda. Navegador Solitário é realmente um livro delicioso. Acompanha a vida de um rapaz que tem um nome que não existe, uma madrinha médium e um avô há muito falecido que lhe manda mensagens do além através da dita madrinha.

Começa por ser hilariante (os piçarvativos e as berlaitadas vieram para ficar definitivamente integrados no vocabulário do pessoal) e depois ganha uma profundidade que o início não deixa antever. Em relação ao primeiro capítulo, só posso deixar aqui a minha vénia ao João Aguiar: é preciso saber escrever muito bem para conseguir escrever tão mal :D

sábado, julho 16, 2005

Livrarias e bibliotecas

Tenho uma relação estranha com bibliotecas. São locais que me fascinam mas que uso muito pouco. Em primeiro lugar porque gosto de RELER, não há prazer maior que pegar num livro de que gostei muito e saber de antemão que me vou deliciar no reencontro das personagens e situações. Em segundo lugar, porque tenho um preconceito segundo o qual as bibliotecas são centros de pesquisa que pouca literatura têm, e a que têm é literatura clássica e pesada demais para aquilo de que gosto. Em terceiro lugar, porque me habituei a ler os livros no original inglês e a recorrer às traduções apenas quando não tenho outra hipótese (tipo, se o original não for inglês), para fugir aos verdadeiros horrores de má tradução que já encontrei.

(espero que isto mude quando, finalmente, abrir a nova biblioteca aqui mesmo ao lado, que está em construção há sei lá quantos anos, isto, claro, se a dita abrir antes de eu mudar de casa...)

Posto isto, sou mais frequentadora de livrarias que de bibliotecas, embora ande a falhar na assiduidade, que o dinheiro não chega para tudo. Tempos houve em que fazia visitas quase diárias à saudosa Take a Book Break em Cascais, uma livraria de livros em segunda mão onde gastei imenso dinheiro em livros usados que de outra forma me teriam custado bem mais. Entretanto fecharam (pudera não, não estou bem a ver como faziam lucro, mas enfim...) e eu fiquei sem a minha fonte de leituras não dispendiosas. Só eu sei a falta que me faz. Claro que agora com a minha filhota o tempo para ler também é muito menos abundante, mas faz-se o que se pode :D

Gosto de ir à Fnac pelos preços e diversidade. Gosto da Griffin Bookshop em Almancil porque é vocacionada para estrangeiros e como tal tem uma variedade de livros no original que não se encontra em mais lado nenhum. Gosto da Galileu em Cascais porque é a coisa mais parecida com a Take a Book Break, embora de parecida tenha pouco... e gosto de alfarrabistas, nomeadamente do Alfarrabista Simões de Faro e do Martinho Livreiro Alfarrabista ao pé da Feira da Ladra, que em tempos me conheceram como aquela chata que quer livros da Odette de Saint-Maurice. E não tenho problemas nenhuns em comprar um livro num hipermercado se a diferença valer a pena. Mas lá que prefiro livrarias... não há dúvida.

The Mother Tongue, Bill Bryson

É verdade, gosto de ler. Mais: gosto de línguas. Pior: gosto de linguística, gramática e essas coisas esquisitas. The Mother Tongue - English & How It Got That Way é um livro interessantíssimo de um escritor hilariante que desta vez resolveu escrever sobre a evolução da língua inglesa. Quando a certa altura ele fala sobre a diversidade das línguas e diz que a língua portuguesa diferencia entre os ângulos interiores e os ângulos exteriores, demorei um bocado (mas eu também sou loira...) a perceber que se estava a falar de canto e esquina. Chegada à parte em que ele diz que no gaélico irlandês a ortografia e a pronúncia parecem ter sido decididas por dois comités diferentes que se reuniram em salas separadas, eu já estava rendida. E ainda íamos na introdução.

Não está disponível em português, aliás uma tradução tornar-se-ia complicada pela particularidade do assunto (e talvez nem fizesse sentido). Mas vale muito a pena.

sexta-feira, julho 15, 2005

Cartilha Maternal, João de Deus

Foi sem dúvida o primeiro livro importante da minha vida. Tinha eu cinco anos quando a minha querida tia N. resolveu oferecer-mo. A minha mãe jura que foi vingança de irmã mais nova, mas eu acho que ela até gostava de me ter atrás dela a guinchar ó mãe que letra é esta? e esta? e um jota e um a como é que se lê? enquanto ela tentava aspirar a casa.

Lembro-me do livro, embora não ao pormenor. Lembro-me de chorar baba e ranho com o dizia o filho para a mãe/debaixo daquela arcada/passava-se a noite bem. E tenho a certeza de que foi este o início da minha paixão pela leitura.