quinta-feira, julho 28, 2005

Lucy Maud Montgomery

Esta senhora teve um dia a excelente ideia de criar uma personagem que para mim foi das mais marcantes, se não a mais marcante, da minha adolescência: Anne Shirley, por cá mais conhecida como a Ana dos cabelos ruivos.

A coisa por cá começou com a série de TV As Aventuras de Ana, que a minha mãe me disse que eu tinha de ver porque a protagonista era tal qual eu. Bom, não será bem assim mas quem me dera. É certo que a tendência para o dramático e a paixão pelos livros eram comparáveis, mas eu nunca tive nem tanta imaginação nem tanta proprensão para os desastres :D

Enfim. Uns tempos depois a RTP começou a dar a série de animação Ana dos Cabelos Ruivos e foi a perdição total, eu adorava aquilo e lembro-me de mais tarde ver o Agora, Escolha! só para poder assistir à reposição da série. Depois deixou de dar e eu fiquei tristinha.

Uns bons anos mais tarde, estava eu de Erasmus em Viena e fui a Konstanz com a minha amiga S. passar o Carnaval. Na montra de uma livraria vejo um livro da Wordsworth (aquela edição abençoadamente baratucha de clássicos) chamado Anne of Avonlea. Os meus parcos neurónios começaram a trabalhar a todo o vapor, ora Anne, com e, e Avonlea, ora Avonlea não era onde ela morava... hum, deixa cá ver e pronto, saí de lá com o livro (o segundo da colecção) na mão. Depois foi esgravatar por todos os meios para completar a colecção, o que aconteceu uns anos mais tarde. E a colecção é:

1) Anne of Green Gables
2) Anne of Avonlea
3) Anne of the Island
4) Anne of Windy Willows
5) Anne's House of Dreams
6) Anne of Ingleside
7) Rainbow Valley
8) Rilla of Ingleside

Lindo, lindo, lindo, lindo. Pelo menos para mim. Adoro tudo nestes livros. A Anne, mesmo aos 11 anos (quando a história começa), é tudo o que eu queria ser quando for grande.

A parte má, tendo em conta a beleza da história, é que não existem traduções para português. A parte boa, tendo em conta as traduções do Harry Potter, é que não existem traduções para português ;)

sexta-feira, julho 22, 2005

Dan Brown (e Robert Harris)

Li O Código Da Vinci e gostei. Li Anjos e Demónios e gostei ainda mais. Agora francamente não entendo toda a polémica. SÃO OBRAS DE FICÇÃO, gentes! Basear o valor destes livros na suposta veracidade do seu conteúdo é desvirtuar dois dos melhores policiais que eu já li.

O Pátria (Fatherland) do Robert Harris é outro policial, embora bastante diferente, que parte do pressuposto de que Hitler ganhou a II Guerra Mundial - e lá por isso não andamos à procura de provas que demonstrem que isto é verdade, nem a gritar aos sete ventos que é mentira... pois não?

Fica a menção aos três livros. O terceiro pouco tem a ver com os dois primeiros, mas achei um bom termo de comparação ;)

quinta-feira, julho 21, 2005

Como um romance, Daniel Pennac


"Os Direitos Inalienáveis do Leitor:
1. O direito de não ler.
2. O direito de saltar páginas.
3. O direito de não acabar um livro.
4. O direito de reler.
5. O direito de ler não importa o quê.
6. O direito de amar os “heróis” dos romances.
7. O direito de ler não importa onde.
8. O direito de saltar de livro em livro.
9. O direito de ler em voz alta.
10. O direito de não falar do que se leu."

(in Como um Romance, Daniel Pennac)

Com um excerto destes na contracapa eu nem tive tempo de respirar: quem escreve assim não é gago! Este livro é delicioso e deixou-me com a certeza de que tinha ali uma alma gémea da leitura.

terça-feira, julho 19, 2005

A César o que é de César

A Cartilha Maternal terá a sua importância. Mas a paixão vem de mais longe. Numa casa tão cheia de livros, jornais e revistas, quase que a leitura é que se apaixonou por mim ;)

Às sextas à noite, depois do jantar, ficávamos os três em silêncio na sala, quebrado apenas quando alguém dizia já leste? então passa aí..., num amontoado de cadernos principais, revistas e suplementos disto e daquilo. Antes, quando era pequena, lia com a luz do corredor depois de a minha mãe me vir apagar a luz e não percebia porque é que ela se zangava tanto.

E durante muitos anos invejei os meninos a quem os pais diziam devias ler mais; os meus eram da corrente filosófica do sempre com o nariz enfiado nos livros, mania da miúda, vai arrumar o teu quarto mas é!

E a culpa era (é) deles :D Obrigada, pais!

Navegador Solitário, João Aguiar

Ora que bela ideia teve a minha amiga Mafalda. Navegador Solitário é realmente um livro delicioso. Acompanha a vida de um rapaz que tem um nome que não existe, uma madrinha médium e um avô há muito falecido que lhe manda mensagens do além através da dita madrinha.

Começa por ser hilariante (os piçarvativos e as berlaitadas vieram para ficar definitivamente integrados no vocabulário do pessoal) e depois ganha uma profundidade que o início não deixa antever. Em relação ao primeiro capítulo, só posso deixar aqui a minha vénia ao João Aguiar: é preciso saber escrever muito bem para conseguir escrever tão mal :D

sábado, julho 16, 2005

Livrarias e bibliotecas

Tenho uma relação estranha com bibliotecas. São locais que me fascinam mas que uso muito pouco. Em primeiro lugar porque gosto de RELER, não há prazer maior que pegar num livro de que gostei muito e saber de antemão que me vou deliciar no reencontro das personagens e situações. Em segundo lugar, porque tenho um preconceito segundo o qual as bibliotecas são centros de pesquisa que pouca literatura têm, e a que têm é literatura clássica e pesada demais para aquilo de que gosto. Em terceiro lugar, porque me habituei a ler os livros no original inglês e a recorrer às traduções apenas quando não tenho outra hipótese (tipo, se o original não for inglês), para fugir aos verdadeiros horrores de má tradução que já encontrei.

(espero que isto mude quando, finalmente, abrir a nova biblioteca aqui mesmo ao lado, que está em construção há sei lá quantos anos, isto, claro, se a dita abrir antes de eu mudar de casa...)

Posto isto, sou mais frequentadora de livrarias que de bibliotecas, embora ande a falhar na assiduidade, que o dinheiro não chega para tudo. Tempos houve em que fazia visitas quase diárias à saudosa Take a Book Break em Cascais, uma livraria de livros em segunda mão onde gastei imenso dinheiro em livros usados que de outra forma me teriam custado bem mais. Entretanto fecharam (pudera não, não estou bem a ver como faziam lucro, mas enfim...) e eu fiquei sem a minha fonte de leituras não dispendiosas. Só eu sei a falta que me faz. Claro que agora com a minha filhota o tempo para ler também é muito menos abundante, mas faz-se o que se pode :D

Gosto de ir à Fnac pelos preços e diversidade. Gosto da Griffin Bookshop em Almancil porque é vocacionada para estrangeiros e como tal tem uma variedade de livros no original que não se encontra em mais lado nenhum. Gosto da Galileu em Cascais porque é a coisa mais parecida com a Take a Book Break, embora de parecida tenha pouco... e gosto de alfarrabistas, nomeadamente do Alfarrabista Simões de Faro e do Martinho Livreiro Alfarrabista ao pé da Feira da Ladra, que em tempos me conheceram como aquela chata que quer livros da Odette de Saint-Maurice. E não tenho problemas nenhuns em comprar um livro num hipermercado se a diferença valer a pena. Mas lá que prefiro livrarias... não há dúvida.

The Mother Tongue, Bill Bryson

É verdade, gosto de ler. Mais: gosto de línguas. Pior: gosto de linguística, gramática e essas coisas esquisitas. The Mother Tongue - English & How It Got That Way é um livro interessantíssimo de um escritor hilariante que desta vez resolveu escrever sobre a evolução da língua inglesa. Quando a certa altura ele fala sobre a diversidade das línguas e diz que a língua portuguesa diferencia entre os ângulos interiores e os ângulos exteriores, demorei um bocado (mas eu também sou loira...) a perceber que se estava a falar de canto e esquina. Chegada à parte em que ele diz que no gaélico irlandês a ortografia e a pronúncia parecem ter sido decididas por dois comités diferentes que se reuniram em salas separadas, eu já estava rendida. E ainda íamos na introdução.

Não está disponível em português, aliás uma tradução tornar-se-ia complicada pela particularidade do assunto (e talvez nem fizesse sentido). Mas vale muito a pena.

sexta-feira, julho 15, 2005

Cartilha Maternal, João de Deus

Foi sem dúvida o primeiro livro importante da minha vida. Tinha eu cinco anos quando a minha querida tia N. resolveu oferecer-mo. A minha mãe jura que foi vingança de irmã mais nova, mas eu acho que ela até gostava de me ter atrás dela a guinchar ó mãe que letra é esta? e esta? e um jota e um a como é que se lê? enquanto ela tentava aspirar a casa.

Lembro-me do livro, embora não ao pormenor. Lembro-me de chorar baba e ranho com o dizia o filho para a mãe/debaixo daquela arcada/passava-se a noite bem. E tenho a certeza de que foi este o início da minha paixão pela leitura.